Xobineski Patruska

Thursday, September 30

 

Anja Nielsen, a Ana Silva: O exemplo prático de como estas coisas dos penfriends acaba por perder a piada rapidamente

Anja Nielsen é um nome bastante comum na Dinamarca. Não tão comum quanto Sprovola Kystashereichetze ou Simone Frystekassawhiskasfaksen, mas comum.

Arranjei uma correspondente dinamarquesa chamada Anja Nielsen, quando tinha 8 anos. Escrevia-lhe coisas como «olá tudo bem? Os meus animais preferidos são os gatos! E os teus??» e ela respondia «Olá, eu também gosto muito de gatos, tenho um que se chama Fritszdankeabritthyssenaufraiztapartawerbungmittwoch, que em dinamarquês quer dizer Fofinho» .

Durante alguns anos trocamos cartas com fotografias e desenhos. Como nenhuma de nós dominava mais do que o inglês básico, os temas de conversa eram limitados. Mas dava para perceber que aquela menina, apesar de viver tão longe, tinha as mesmas preocupações e gostos que eu. Um exemplo de como, passo a passo, era construída a grande família europeia.

O primeiro problema surge num Natal em que ela me envia um postal da República Dominicana onde está «a passar férias com o namorado Daniel e alguns amigos».

Ela tinha 11 anos e estava a passar as férias com o namorado. Eu também tinha 11 anos mas estava sentada numa mesa com travessas de bacalhau e hortaliça. Algo de errado se passava. «Além disso» pensei «ainda não consegui deixar de gaguejar quando estou à frente de um rapaz».

Alguns meses depois, a Anja confessa-me que deu «uma queca com o Daniel. Finalmente. Já estava farta de ser virgem.» Ora, quem tem 11 anos e mora na Maia não sabe o que é isso da queca. E virgem só conhece a Virgem Maria - imagem que é instantaneamente relacionada com as festas da Nossa Senhora do Bom Despacho e as suas roulottes de farturas. Não sabia se estava farta de ser virgem, mas estava certamente farta de virgens. Por isso, resolvi visitar o meu amiguinho Luisinho.

O Luisinho era a coisa mais próxima que eu tinha de um namorado, do mesmo modo que as nossas partidas de macaca eram a actividade mais aproximada de um lascivo e húmido beijo.

«Luisinho, queres dar uma queca?» - perguntei timidamente. «O que é isso? Dá para dois? Deixa-me acabar este nível do Super Mario World e já jogamos isso» respondeu visivelmente animado. Inevitavelmente, e depois de analisar atentamente o episódio «A Reprodução» da colecção Era Uma Vez a Vida Humana acabei por perceber do que é que a Anja Nielsen falava. Ela tinha-se deitado numa cama a dar beijinhos ao Daniel. Com um velho voyeur de barbas ao lado da cama a explicar o funcionamento biológico do sistema reprodutor. Que nojo.

Deixei de me corresponder com ela. Mas no ano seguinte pedi uma Barbie Scandinavian Slut pelo Natal.

Friday, September 17

 

Música Pimba

«Composições musicais pindéricas» e «letras sofríveis de rima fácil» são algumas das expressões que melhor definem a obra musical de João Pedro Pais. Mas não quero falar sobre ele. O título deste post é música pimba: vou falar daqueles pseudo-artistas da música nacional que fazem sucesso a cantar canções sempre iguais com letras do Menito Ramos, não dos pseudo-artistas da música nacional que fazem sucesso a cantar canções sempre iguais com letras dos próprios.

Nunca fui uma pessoa fundamentalista no que toca à música pimba. Sei ver o seu lado positivo, para além do negativo. Aprecio-a bastante até, e encontro nela uma componente mais profunda do que a que é visível aos olhos menos atentos.

Quando Ágata grita «Olá Maia, eu quero ver toda a gente de braços no ar!!» o seu apelo é tudo menos inconsciente. Ao colocar os braços no ar o ser humano toma consciência da sua verdadeira dimensão e de como as suas limitações físicas condenam-no à resignação. Centenas de pessoas a meditarem assim sobre a fragilidade humana enquanto entoam o refrão de «Perfume de Mulher». É notável o feito de Ágata.

Já Claudisabel prefere cantar sobre a tão falada crise de valores do mundo actual. Insatisfação da mulher emancipada versus Descrença no homem perfeito. Um tema polémico, abordado sem as palavras caralho e foda-se, afastando-se assim dos lugares-comuns de Margarida Rebelo Pinto com mestria:

Homens a sério isso todas nós sabemos
Cada vez há menos, cada vez há menos!
Mas homens tolos, mentirosos e banais
Cada vez há mais, cada vez há mais!

in Preciso de Um Herói, 1999 VIDISCO

Do lado masculino, Toy surge como a minha máxima referência. Como resistir aos versos «Sensual, és tão sensual!... Que até o teu simples olhar me faz mal!» do hit Mulher Fatal? E pensar que gostava daquela lamechice pegada do «Femme Fatale» dos Velvet Underground, pfff!
É preciso ter este olhar sobre a música pimba. Não a rejeitar sobranceiramente. Se a minha vizinha da frente não ouvisse Tony Carreira bem alto todos os dias de manhã, o que ouviria? A RFM, não era? As coisas já estão demasiado más como estão.

Thursday, September 16

 

Mudanças

Desculpem a falta de actualizações mas ando ocupada a escolher cuidadosamente tudo o que preciso de levar para Lisboa. Nestas coisas é muito importante poupar espaço e não atafulhar o novo lar de coisas desnecessárias, como comida ou roupa. Isto é: saber seleccionar.

Exemplo de coisas que serão úteis:

Avental Publicitário Sharp 1991, o meu preferido.



"Anedotas de Sala" de António Sala, um livro macabro para toda a família.



Norberto de Mello e Bettencourt, o meu companheiro de todas as horas e coelho de peluche das melhores famílias da Foz.



"A Arte de Ganhar Dinheiro", a Bíblia do Faça Você Mesmo. Com capítulos intitulados "Como fabricar a sua própria bebida alcoólica", "Como fazer queijo cabreiro da Beira Baixa!" ou "Como fabricar cola forte com membrana interna da bexiga natatória do esturjão". Sempre à mão.



Já está tudo dentro da mala, mas ainda estou a ver se encontro uma t-shirt com a frase "Comer caracóis é nojento". Acho que me vou dar bem por Lisboa.

Friday, September 10

 

Há sempre algo pior

Andei a ver apartamentos e quartos em Lisboa. Não porque ande à procura de alojamento. A verdade é que faz parte de uma terapia que visa melhorar a minha auto-estima. Por exemplo: às vezes penso que sou a pior pessoa do mundo. Nessas alturas costumo ler uma ou duas revistas cor-de-rosa. Depois é inevitável rir-me. Como podia ter pensado que era a pessoa mais inútil à face da Terra? Tolices.

Para resolver os meus problemas de consciência pelo facto de cozinhar francamente mal e de primar pela desorganização não há nada como passar uns dias a ver apartamentos mobilados para aluguer.

É necessário redefinir todo o conceito de «arrumação» após ver uma sala com electrodomésticos avariados, meias, chinelos, revistas, bolachas, listas telefónicas, pilhas, boomerangs, tampas de canetas, um piano de cauda, garrafões de água, boxers, almofadas, batatas fritas, extintores e uma bandeira de Portugal. Isto são apenas os objectos que memorizei num rápido olhar. Nem espreitei debaixo do sofá.

Resulta, sabem? Ultimamente, enquanto faço tostas-mistas para o jantar e dobro atabalhoadamente a roupa dentro dos armários, tenho-me sentido a verdadeira fada do lar.

Thursday, September 2

 

Tipo duhhhh, Darwin!

Por vezes, durante insónias intermináveis, sou assaltada pelas eternas dúvidas ligadas ao absurdo da existência humana. O universo surgiu de uma implosão, ok. Entretanto a atmosfera deste planeta propiciou o desenvolvimento de uma espécie de vida primária, ok. Depois houve muitas tempestades cósmicas, erupções de vulcões gigantescos, movimentos de placas continentais, extinção e aparecimento de novos espécimes, OK, OK, OK.

Pá, mas querem tentar convencer-me de que o homem é fruto de uma evolução? Quer dizer, para os cientistas tudo começou com pequenos primatas, passando pelo Homo Sapiens e culminando no Michael Jackson?! Por favor, querem enganar quem?...

Eu própria levei a cabo algumas experiências. Tentei fazer fogo friccionando duas pedras, como os nossos supostos "antepassados". Acabei por dilacerar gravemente a minha mão esquerda e acordei todas as pessoas do parque de campismo.

Tive de explicar ao guarda-nocturno do parque todo o meu raciocínio. Como é que eu - um produto de milhões de anos de evolução - não consigo executar uma tarefa básica que o Homo Erectus fazia de olhos fechados há 1,5 milhões de anos? Ele retirou um isqueiro do bolso, acendeu um cigarro e murmurou "Porque o mundo à volta do Homem também sofreu uma evolução."

"Mas qual evolução?" ripostei, direccionando a luz da minha lanterna sobre ele "Não seja idiota, homem. Nada mudou. Já viu as novas grelhas de programação para Setembro dos canais de televisão? Mudança, mudança... Enfim, desde que nasci a RTP continua a mesma e os penteados das apresentadoras dos seus telejornais também. Eu acredito apenas no que vejo. E o que vejo é que as coisas continuam iguais. E que é impossível eu descender de um Homo Erectus que andava nu e cuja principal habilidade era acender fog...E PARE DE DAR ESSAS RISADINHAS ESTÚPIDAS SEMPRE QUE EU DIGO HOMO ERECTUS!"

Continuo a não acreditar na teoria evolucionista, embora um tal de "Pipo" dessas novelas que andam por aí me faça repensar várias vezes sobre se não seremos de facto descendentes de primatas. Claro que numa tentativa para soar credível junto da comunidade científica estou prestes a apresentar a minha própria teoria ao público. Não posso falar muito sobre isso para já, mas avanço que mistura um pouco de "uma mera experiência alienígena" com "brotar da terra como cogumelos" e ainda "um tipo chamado Adão e a sua costela". Preparem-se.

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