Não actualizo o blog há algum tempo. Mas desta vez tenho uma boa desculpa.
A verdade é que estive encarcerada durante 18 dias nas masmorras do metropolitano de Lisboa. Sei que parece uma desculpa esfarrapada, mas não é. O que aconteceu foi que no dia 13 de Outubro, enquanto fazia a viagem
Alameda-Olaias de metro, numa ligeira contracção dos músculos faciais, esbocei um sorriso. As caras horrorizadas dos outros passageiros alertaram-me para o perigo que corria. Estava a sorrir no metro. Parecia verdadeiramente feliz. E, repito, estava no metro. Um descuido fatal.
Imediatamente 2 capangas de 1,90 entram na minha carruagem e arrastam-me para fora não se comovendo com os meus pedidos de clemência.
«NAAA HAAAHAAÃO! EU NÃO ESTAVA A SORRIR, ERA SÓ UM ESGAR DE SONO, NÃO, ACREDITEM POR FAVOR, EU SOU INFELIZ, DEIXEM-ME IR EM LIBERD...»
Após ser violentamente agredida, atiram-me para uma cela subterrânea, onde a minha única companhia são as ratazanas, uma côdea de pão duro e uma TVGuia com a Teresa Guilherme na capa a publicitar o programa
1, 2, 3.
«Meu Deus, é de certeza uma TVGuia de 1983» pensei observando cuidadosamente a programação
«1,2,3, Praça da Alegria, Top +, Especial Mico da Câmara Pereira? Foram tempos nefastos!».
Aceitando a hipótese da TVGuia ter sido abandonada pelo anterior recluso, pode-se equacionar a possibilidade dessa pessoa ter decidido refugiar-se voluntariamente naquele bunker depois de averiguar a programação da RTP. Já se construíram bunkers por motivos menos óbvios, como ataques nucleares ou mega-ciclones.
As horas e os dias foram passando naquele espaço subterrâneo escuro onde me prenderam. O silêncio era apenas perturbado pela vibração do metro a passar de 5 em 5 minutos. Um pouco como nos cinemas do
Saldanha Residence, mas sem a parte da projecção do filme.
Mas as regras do Metro são claras, e eu infringi-as. É tudo pensado ao pormenor para fazer dos passageiros fantoches nas mãos dos cruéis empresários-alienígenas que controlam o Metropolitano. De manhã, uma boa dose de clássicos do Elton John versão midi. Ao final da tarde, um odor a suor inebriante e alucinatório por todas as carruagens. O olhar vago e alienado dos passageiros não me engana. Eles querem-nos transformar em autómatos, servos sem consciência.
Consegui escapar por uma conduta de ar ao fim de duas semanas. Vindo da instalação sonora ouvia-se Tom Waits e tive de parar para chorar. Apenas com muita força de vontade consegui continuar até à superfície e escapar do pesadelo.
Qual foi a mente sórdida que pensou que alguém podia ser feliz debaixo da terra? Mas nem tudo é mau. Afinal, consegui sobreviver.
Um dia pode acontecer-vos, ou até nunca acontecer, mas
quando e
se acontecer, tenham
muito medo.
Ena, criei um mito urbano.
posted by Sofia M #
16:31
Vieira de Carvalho, depois de quase 30 anos à frente da Câmara Municipal da Maia, deixou - para além de dívidas à EDP - muitas saudades. O seu nome permanecerá para sempre na minha memória. Não só porque vivo perto da Estátua do Professor Doutor Vieira de Carvalho, numa rua paralela à Praça Professor Doutor José Vieira de Carvalho, com acesso ao Estádio Professor Doutor José Vieira de Carvalho mas também porque era um homem com um carisma inigualável.
Sempre defendi a teoria de que o alter-ego de Vieira de Carvalho era
Oswald "O Pinguim" Cobblepot. Dois mayors sinistros, ambiciosos e amargurados: a mesma pessoa. Definitivamente.
O que me deixa preocupada é o facto de
António Bragança Fernandes, actual presidente da câmara da Maia, se ter afastado desse modelo imposto por Vieira. Ao invés de um presidente ameaçador e obscuro temos isto:
Bem sei que os tempos Gotham City da Maia não eram agradáveis. Mas o que é isto? Qual é o tipo de credibilidade de um tipo que nos seus tempos livres veste umas jardineiras e canta coisas como "é bom ser assim"? Por quanto tempo planeava ocultar esta sua vida dupla aos olhos dos munícipes? Quando é que opta por um modelo diferente de óculos? Demita-se, Sr. Presidente.
posted by Sofia M #
20:11