Xobineski Patruska

Thursday, February 17

 

Nesta época...

...de estudo intensivo para os exames e de aprofundamento de conhecimentos sobre diversas matérias, como semiótica ou sistémica, torna-se inevitável um post sobre aquilo que não me sai da cabeça: a televisão.

Confesso que encarei com apreensão o fim do Sol Música. Embora me fosse completamente indiferente, sei que para muitas pessoas o Sol Música era mais do que um simples canal televisivo. Era o símbolo de toda uma geração de jovens inadaptados numa sociedade que não os compreendia. No caso da minha geração, a de 86, há obrigatoriamente que dividir os jovens inadaptados nas seguintes categorias: góticos inadaptados, metaleiros inadaptados, bimbos inadaptados, hip-hoppers inadaptados, betos inadaptados, mitras inadaptados, indies inadaptados, dreads inadaptados, urbano-depressivos inadaptados, ravers inadaptados, geeks inadaptados, surfistas inadaptados, freaks inadaptados e sk8er punks inadaptados. No fundo, todos ninux e ninax inadaptados com causas tão justas como "paXeM +eVaNesCeNcE". Não os subestimem. E não subestimem o que o Sol Música representou para eles. Uma xala d engats.

Para substituir o Sol Música, apareceu o Biography Channel. Este último cortou de raiz com a forte componente escrita do anterior: utiliza a dobragem de vozes em vez das habituais legendas. Isto é um claro investimento no target das pessoas que usam lentes de contacto e que não conseguem ver nada na televisão depois de as tirar, à noite. Target que até então se encontrava confinado ao Gigashopping e ao Odisseia.

Claro que também tenho óculos. Mas só nós, usadores-de-lentes-de-contacto, sabemos quão longo e penoso é o percurso da nossa cama quentinha até à terceira gaveta a contar de baixo de um armário do outro lado do quarto, só para os ir buscar.

Fazendo parte desta minoria, congratulo-me pela existência do Biography Channel. Até há bem pouco tempo as pessoas não tinham noção deste drama. Há algumas semanas passei três horas em frente à televisão a percepcionar pouco mais do que uns ruídos difusos e uma imagem praticamente contínua e monótona. Acreditem que foi uma experiência degradante. Ainda mais degradante depois de perceber que afinal estava em frente ao microondas.

O único ponto negativo a apontar ao Biography Channel prende-se com o conteúdo de algumas biografias. Um exemplo: na biografia da modelo Rachel Hunter o narrador enuncia o que a torna numa manequim especial: "Rachel tem curvas de mulher ao invés do ar macilento das outras modelos."

Ora, isto pode ser uma ofensa para as eventuais espectadoras sensíveis e míopes que não têm curvas de mulher e cuja única coisa de modelo que possuem ser precisamente o seu típico ar macilento. Cuidado com estas frases senhores do Biography Channel. Eu juro que vou ali à Sic Mulher e atiço-lhes a Oprah Winfrey. A sério que o faço.

Friday, January 21

 
Xobi ter exames. Xobi gostar televisão/dormir/olhar fixamente para ponto no tecto durante duas horas. Xobi preguiça. Xobi não saber conjugar verbos. Xobi querer avisar: Quem Quer Ser Bloglionário.

Xobi voltar próxima semana.

Monday, December 20

 

Xobi and rod's Guide to Life

A Cozinha
Conselhos práticos de quem a superou

1.
Nos tempos de hoje a qualidade de um bom cozinheiro é directamente proporcional à quantidade de espaço ainda restante na parte do frigorífico reservada aos pré-congelados.

2. Se for casado, violência doméstica está fora de questão enquanto cozinha. Se for inevitável, afaste-se do fogão.

3. Se cozinhar de manhã, desligue a televisão e o rádio. Seja forte, esqueça, não há entretenimento possível. Pense em comprar um leitor de DVD para a cozinha, mas não é muito recomendável. Filmes europeus e/ou pornográficos não combinam com cozinha.

4. Se tem problemas em aceitar a sua má destreza na cozinha, veja os programas de Manuel Luís Goucha. Cozinhar bem não é sinónimo de sucesso nos restantes quadrantes da vida. Nisto a RTP Memória presta verdadeiro serviço público. Pense em investir numa subscrição da TV Cabo.

5. Se tem inveja daquele homem do People and Arts que arranja lulas acabadas de pescar, numa cozinha improvisada em cima de uma plataforma sobre a água algures nas ilhas gregas, abra os olhos. Quando acaba o programa ele é provavelmente sodomizado por dois locais de nome Nikos e Giorgios.

6. Se estiver a cozinhar para outras pessoas, deixe-os na sala entretidos. Nunca mostre o que está realmente a cozinhar.

7. Nunca aceite receitas de gente:
7.1) Magra
7.2) Com cabelo
7.3) Bonita
7.4) Com bons dentes
7.5) Que têm uma cozinha artilhada com utensílios vendidos na TV Shop.
7.6) Cuja roupa, depois de 5 horas numa cozinha, ainda cheira a Eternity de Calvin Klein, em vez de refogado

8. Se a Filipa Vacondeus consegue, também conseguirá. O truque está todo no trem de cozinha, não na cozinheira. Se observar com cuidado, verá que o trem vem com um anão lá dentro que cozinha por si. Será a melhor compra da sua vida.

9. Para quê esperar horas por um complexo prato no forno quando tudo pode ser feito em breves minutos num microondas? A comida fica com um sabor estranho das duas maneiras e se usar o segundo já tem uma boa desculpa.

10. Se tiver um encontro importante, não cozinhe para ele/a. Não domina suficientemente bem a cozinha. Encare os factos: está a ler um guia escrito por duas pessoas deprimentes quando podia estar a saltar e a rir na relva.

Sunday, November 14

 

A minha relação platónica com uma tartaruga cínica

Bon Jovi, Tom Cruise, Brad Pitt e o gajo-loiro-dos-Onda-Choc. Todos capas da mítica revista SUPER POP e todos paixões avassaladoras nos corações de todas as miúdas portuguesas no início dos anos 90.

Menos eu. "Claro Xobi, já na altura eras lésbica" pensam alguns. Estão errados. Eu tive uma paixão platónica marcante... pelo Rafael das Tartarugas Ninja.

Tinha consciência que era estúpido. Mas também tinha um vizinho que comia sabão, e essa situação tornava tudo mais relativo.

Claro que o facto de ele ser uma tartaruga mutante com especial aptidão para as artes marciais e vassalo de um rato de esgoto trazia, à partida, alguns problemas para a nossa relação. Ser uma figura de BD e desenhos-animados também não ajudava. Mas o que me deixava mesmo de rastos era o favorito do restante público feminino ser o seu colega e líder das Tartarugas Ninja, Leonardo. Ou o divertido Michelangelo ou mesmo o jovem misantropo Donatello.

O meu amado Rafael era o cínico, o pessimista, o nervoso. Mas eu sabia que esse não era o verdadeiro Rafael. Tinha a certeza que por detrás daquela - literalmente - carapaça dura, se escondia uma tartaruga sensível, carente, frágil. Felizmente escondi esta paixão de toda a gente, evitando assim a rejeição no grupinho de amigos. Rejeição essa que surgiu no ano seguinte quando pedi para fazer de ovelha no presépio da festa de natal da escola, declinando o sempre aborrecido papel de Maria.

Cedo desisti da ideia de que algo bonito podia nascer entre nós. Mas agora há esperança.



Saturday, October 30

 

Um post triste: a impossibilidade de ser feliz no metro.

Não actualizo o blog há algum tempo. Mas desta vez tenho uma boa desculpa.

A verdade é que estive encarcerada durante 18 dias nas masmorras do metropolitano de Lisboa. Sei que parece uma desculpa esfarrapada, mas não é. O que aconteceu foi que no dia 13 de Outubro, enquanto fazia a viagem Alameda-Olaias de metro, numa ligeira contracção dos músculos faciais, esbocei um sorriso. As caras horrorizadas dos outros passageiros alertaram-me para o perigo que corria. Estava a sorrir no metro. Parecia verdadeiramente feliz. E, repito, estava no metro. Um descuido fatal.

Imediatamente 2 capangas de 1,90 entram na minha carruagem e arrastam-me para fora não se comovendo com os meus pedidos de clemência.

«NAAA HAAAHAAÃO! EU NÃO ESTAVA A SORRIR, ERA SÓ UM ESGAR DE SONO, NÃO, ACREDITEM POR FAVOR, EU SOU INFELIZ, DEIXEM-ME IR EM LIBERD...»

Após ser violentamente agredida, atiram-me para uma cela subterrânea, onde a minha única companhia são as ratazanas, uma côdea de pão duro e uma TVGuia com a Teresa Guilherme na capa a publicitar o programa 1, 2, 3.

«Meu Deus, é de certeza uma TVGuia de 1983» pensei observando cuidadosamente a programação «1,2,3, Praça da Alegria, Top +, Especial Mico da Câmara Pereira? Foram tempos nefastos!».

Aceitando a hipótese da TVGuia ter sido abandonada pelo anterior recluso, pode-se equacionar a possibilidade dessa pessoa ter decidido refugiar-se voluntariamente naquele bunker depois de averiguar a programação da RTP. Já se construíram bunkers por motivos menos óbvios, como ataques nucleares ou mega-ciclones.

As horas e os dias foram passando naquele espaço subterrâneo escuro onde me prenderam. O silêncio era apenas perturbado pela vibração do metro a passar de 5 em 5 minutos. Um pouco como nos cinemas do Saldanha Residence, mas sem a parte da projecção do filme.

Mas as regras do Metro são claras, e eu infringi-as. É tudo pensado ao pormenor para fazer dos passageiros fantoches nas mãos dos cruéis empresários-alienígenas que controlam o Metropolitano. De manhã, uma boa dose de clássicos do Elton John versão midi. Ao final da tarde, um odor a suor inebriante e alucinatório por todas as carruagens. O olhar vago e alienado dos passageiros não me engana. Eles querem-nos transformar em autómatos, servos sem consciência.

Consegui escapar por uma conduta de ar ao fim de duas semanas. Vindo da instalação sonora ouvia-se Tom Waits e tive de parar para chorar. Apenas com muita força de vontade consegui continuar até à superfície e escapar do pesadelo.

Qual foi a mente sórdida que pensou que alguém podia ser feliz debaixo da terra? Mas nem tudo é mau. Afinal, consegui sobreviver. Um dia pode acontecer-vos, ou até nunca acontecer, mas quando e se acontecer, tenham muito medo.

Ena, criei um mito urbano.

Tuesday, October 12

 

Lisboa é uma terra estranha - parte 1

(Boas Festas também para ti)

Monday, October 4

 

A progressiva ridicularização do aparelho político maiato

Vieira de Carvalho, depois de quase 30 anos à frente da Câmara Municipal da Maia, deixou - para além de dívidas à EDP - muitas saudades. O seu nome permanecerá para sempre na minha memória. Não só porque vivo perto da Estátua do Professor Doutor Vieira de Carvalho, numa rua paralela à Praça Professor Doutor José Vieira de Carvalho, com acesso ao Estádio Professor Doutor José Vieira de Carvalho mas também porque era um homem com um carisma inigualável.

Sempre defendi a teoria de que o alter-ego de Vieira de Carvalho era Oswald "O Pinguim" Cobblepot. Dois mayors sinistros, ambiciosos e amargurados: a mesma pessoa. Definitivamente.


O que me deixa preocupada é o facto de António Bragança Fernandes, actual presidente da câmara da Maia, se ter afastado desse modelo imposto por Vieira. Ao invés de um presidente ameaçador e obscuro temos isto:

Bem sei que os tempos Gotham City da Maia não eram agradáveis. Mas o que é isto? Qual é o tipo de credibilidade de um tipo que nos seus tempos livres veste umas jardineiras e canta coisas como "é bom ser assim"? Por quanto tempo planeava ocultar esta sua vida dupla aos olhos dos munícipes? Quando é que opta por um modelo diferente de óculos? Demita-se, Sr. Presidente.

Thursday, September 30

 

Anja Nielsen, a Ana Silva: O exemplo prático de como estas coisas dos penfriends acaba por perder a piada rapidamente

Anja Nielsen é um nome bastante comum na Dinamarca. Não tão comum quanto Sprovola Kystashereichetze ou Simone Frystekassawhiskasfaksen, mas comum.

Arranjei uma correspondente dinamarquesa chamada Anja Nielsen, quando tinha 8 anos. Escrevia-lhe coisas como «olá tudo bem? Os meus animais preferidos são os gatos! E os teus??» e ela respondia «Olá, eu também gosto muito de gatos, tenho um que se chama Fritszdankeabritthyssenaufraiztapartawerbungmittwoch, que em dinamarquês quer dizer Fofinho» .

Durante alguns anos trocamos cartas com fotografias e desenhos. Como nenhuma de nós dominava mais do que o inglês básico, os temas de conversa eram limitados. Mas dava para perceber que aquela menina, apesar de viver tão longe, tinha as mesmas preocupações e gostos que eu. Um exemplo de como, passo a passo, era construída a grande família europeia.

O primeiro problema surge num Natal em que ela me envia um postal da República Dominicana onde está «a passar férias com o namorado Daniel e alguns amigos».

Ela tinha 11 anos e estava a passar as férias com o namorado. Eu também tinha 11 anos mas estava sentada numa mesa com travessas de bacalhau e hortaliça. Algo de errado se passava. «Além disso» pensei «ainda não consegui deixar de gaguejar quando estou à frente de um rapaz».

Alguns meses depois, a Anja confessa-me que deu «uma queca com o Daniel. Finalmente. Já estava farta de ser virgem.» Ora, quem tem 11 anos e mora na Maia não sabe o que é isso da queca. E virgem só conhece a Virgem Maria - imagem que é instantaneamente relacionada com as festas da Nossa Senhora do Bom Despacho e as suas roulottes de farturas. Não sabia se estava farta de ser virgem, mas estava certamente farta de virgens. Por isso, resolvi visitar o meu amiguinho Luisinho.

O Luisinho era a coisa mais próxima que eu tinha de um namorado, do mesmo modo que as nossas partidas de macaca eram a actividade mais aproximada de um lascivo e húmido beijo.

«Luisinho, queres dar uma queca?» - perguntei timidamente. «O que é isso? Dá para dois? Deixa-me acabar este nível do Super Mario World e já jogamos isso» respondeu visivelmente animado. Inevitavelmente, e depois de analisar atentamente o episódio «A Reprodução» da colecção Era Uma Vez a Vida Humana acabei por perceber do que é que a Anja Nielsen falava. Ela tinha-se deitado numa cama a dar beijinhos ao Daniel. Com um velho voyeur de barbas ao lado da cama a explicar o funcionamento biológico do sistema reprodutor. Que nojo.

Deixei de me corresponder com ela. Mas no ano seguinte pedi uma Barbie Scandinavian Slut pelo Natal.

Friday, September 17

 

Música Pimba

«Composições musicais pindéricas» e «letras sofríveis de rima fácil» são algumas das expressões que melhor definem a obra musical de João Pedro Pais. Mas não quero falar sobre ele. O título deste post é música pimba: vou falar daqueles pseudo-artistas da música nacional que fazem sucesso a cantar canções sempre iguais com letras do Menito Ramos, não dos pseudo-artistas da música nacional que fazem sucesso a cantar canções sempre iguais com letras dos próprios.

Nunca fui uma pessoa fundamentalista no que toca à música pimba. Sei ver o seu lado positivo, para além do negativo. Aprecio-a bastante até, e encontro nela uma componente mais profunda do que a que é visível aos olhos menos atentos.

Quando Ágata grita «Olá Maia, eu quero ver toda a gente de braços no ar!!» o seu apelo é tudo menos inconsciente. Ao colocar os braços no ar o ser humano toma consciência da sua verdadeira dimensão e de como as suas limitações físicas condenam-no à resignação. Centenas de pessoas a meditarem assim sobre a fragilidade humana enquanto entoam o refrão de «Perfume de Mulher». É notável o feito de Ágata.

Já Claudisabel prefere cantar sobre a tão falada crise de valores do mundo actual. Insatisfação da mulher emancipada versus Descrença no homem perfeito. Um tema polémico, abordado sem as palavras caralho e foda-se, afastando-se assim dos lugares-comuns de Margarida Rebelo Pinto com mestria:

Homens a sério isso todas nós sabemos
Cada vez há menos, cada vez há menos!
Mas homens tolos, mentirosos e banais
Cada vez há mais, cada vez há mais!

in Preciso de Um Herói, 1999 VIDISCO

Do lado masculino, Toy surge como a minha máxima referência. Como resistir aos versos «Sensual, és tão sensual!... Que até o teu simples olhar me faz mal!» do hit Mulher Fatal? E pensar que gostava daquela lamechice pegada do «Femme Fatale» dos Velvet Underground, pfff!
É preciso ter este olhar sobre a música pimba. Não a rejeitar sobranceiramente. Se a minha vizinha da frente não ouvisse Tony Carreira bem alto todos os dias de manhã, o que ouviria? A RFM, não era? As coisas já estão demasiado más como estão.

Thursday, September 16

 

Mudanças

Desculpem a falta de actualizações mas ando ocupada a escolher cuidadosamente tudo o que preciso de levar para Lisboa. Nestas coisas é muito importante poupar espaço e não atafulhar o novo lar de coisas desnecessárias, como comida ou roupa. Isto é: saber seleccionar.

Exemplo de coisas que serão úteis:

Avental Publicitário Sharp 1991, o meu preferido.



"Anedotas de Sala" de António Sala, um livro macabro para toda a família.



Norberto de Mello e Bettencourt, o meu companheiro de todas as horas e coelho de peluche das melhores famílias da Foz.



"A Arte de Ganhar Dinheiro", a Bíblia do Faça Você Mesmo. Com capítulos intitulados "Como fabricar a sua própria bebida alcoólica", "Como fazer queijo cabreiro da Beira Baixa!" ou "Como fabricar cola forte com membrana interna da bexiga natatória do esturjão". Sempre à mão.



Já está tudo dentro da mala, mas ainda estou a ver se encontro uma t-shirt com a frase "Comer caracóis é nojento". Acho que me vou dar bem por Lisboa.

Friday, September 10

 

Há sempre algo pior

Andei a ver apartamentos e quartos em Lisboa. Não porque ande à procura de alojamento. A verdade é que faz parte de uma terapia que visa melhorar a minha auto-estima. Por exemplo: às vezes penso que sou a pior pessoa do mundo. Nessas alturas costumo ler uma ou duas revistas cor-de-rosa. Depois é inevitável rir-me. Como podia ter pensado que era a pessoa mais inútil à face da Terra? Tolices.

Para resolver os meus problemas de consciência pelo facto de cozinhar francamente mal e de primar pela desorganização não há nada como passar uns dias a ver apartamentos mobilados para aluguer.

É necessário redefinir todo o conceito de «arrumação» após ver uma sala com electrodomésticos avariados, meias, chinelos, revistas, bolachas, listas telefónicas, pilhas, boomerangs, tampas de canetas, um piano de cauda, garrafões de água, boxers, almofadas, batatas fritas, extintores e uma bandeira de Portugal. Isto são apenas os objectos que memorizei num rápido olhar. Nem espreitei debaixo do sofá.

Resulta, sabem? Ultimamente, enquanto faço tostas-mistas para o jantar e dobro atabalhoadamente a roupa dentro dos armários, tenho-me sentido a verdadeira fada do lar.

Thursday, September 2

 

Tipo duhhhh, Darwin!

Por vezes, durante insónias intermináveis, sou assaltada pelas eternas dúvidas ligadas ao absurdo da existência humana. O universo surgiu de uma implosão, ok. Entretanto a atmosfera deste planeta propiciou o desenvolvimento de uma espécie de vida primária, ok. Depois houve muitas tempestades cósmicas, erupções de vulcões gigantescos, movimentos de placas continentais, extinção e aparecimento de novos espécimes, OK, OK, OK.

Pá, mas querem tentar convencer-me de que o homem é fruto de uma evolução? Quer dizer, para os cientistas tudo começou com pequenos primatas, passando pelo Homo Sapiens e culminando no Michael Jackson?! Por favor, querem enganar quem?...

Eu própria levei a cabo algumas experiências. Tentei fazer fogo friccionando duas pedras, como os nossos supostos "antepassados". Acabei por dilacerar gravemente a minha mão esquerda e acordei todas as pessoas do parque de campismo.

Tive de explicar ao guarda-nocturno do parque todo o meu raciocínio. Como é que eu - um produto de milhões de anos de evolução - não consigo executar uma tarefa básica que o Homo Erectus fazia de olhos fechados há 1,5 milhões de anos? Ele retirou um isqueiro do bolso, acendeu um cigarro e murmurou "Porque o mundo à volta do Homem também sofreu uma evolução."

"Mas qual evolução?" ripostei, direccionando a luz da minha lanterna sobre ele "Não seja idiota, homem. Nada mudou. Já viu as novas grelhas de programação para Setembro dos canais de televisão? Mudança, mudança... Enfim, desde que nasci a RTP continua a mesma e os penteados das apresentadoras dos seus telejornais também. Eu acredito apenas no que vejo. E o que vejo é que as coisas continuam iguais. E que é impossível eu descender de um Homo Erectus que andava nu e cuja principal habilidade era acender fog...E PARE DE DAR ESSAS RISADINHAS ESTÚPIDAS SEMPRE QUE EU DIGO HOMO ERECTUS!"

Continuo a não acreditar na teoria evolucionista, embora um tal de "Pipo" dessas novelas que andam por aí me faça repensar várias vezes sobre se não seremos de facto descendentes de primatas. Claro que numa tentativa para soar credível junto da comunidade científica estou prestes a apresentar a minha própria teoria ao público. Não posso falar muito sobre isso para já, mas avanço que mistura um pouco de "uma mera experiência alienígena" com "brotar da terra como cogumelos" e ainda "um tipo chamado Adão e a sua costela". Preparem-se.

Tuesday, August 31

 

Viver no campo :)

Viver no campo é saudável. Não há supermercados nem estradas nem fábricas nem televisões a transmitir bem a RTP1. :) Assim as pessoas nunca ouviram a Merche Romero a entrevistar os convidados do Portugal no Coração e são mais felizes. Deitamo-nos e levantamo-nos mais cedo acompanhando o sol. Acordamos com o galo pela manhã. E também com os pássaros que fazem "hreeec hreecc", "piupiupiupiu" e "uip uip uip". Na Maia, de manhãzinha só se ouve "CRUAC", "OLÁ" e "LOURO SOU O LOURO CRUAC" vindo da gaiola azul da varanda do vizinho. Além disso aqui no campo há uma coisa que nunca tinha visto na Maia. É grande, castanha e também tem coisas verdes. A minha mãe apontou-me e disse que era uma árvore. :) Na televisão parecem mais pequenas. Estou a gostar muito destes dias aqui. Há mais espaço para brincar e tenho muitos mais amiguinhos: o pato, o ganso, a galinhdkahsdklhjlfeqwjmrfdksmduopureqwnaslkjasd desculpem, finalmente consegui matar o mosquito que estava em cima do teclado. O único problema do campo é ser muito frio à noite. E ter animais que me metem medo como aranhas, cobras, chupa-cabras e tractores. :(

Xobi

Thursday, August 26

 

10 dicas para aproveitar as férias ou Quando for grande quero escrever artigos para o Reader's Digest

1 - Não faça grandes viagens de automóvel. Quando o fizer, não tenha pressas. Aproveite para abrir as janelas e aumentar o volume do rádio que passa uma música celta. Mantenha-se imperturbável enquanto os indivíduos ao lado gritarem "GANDA SOM!". São, naturalmente, pessoas tensas.

2 - Vá à praia, respire o ar marítimo. Se frequentar as praias do norte aproveite o momento em que o seu guarda-sol e guarda-vento levantam voo, arremessados por um vento a 300 km/h, para fazer uma corrida rápida até ao outro lado da praia. Correr fortalece os ossos, músculos e articulações dos membros inferiores e melhora todo o sistema cardiorespiratório.

3 - Antes de sair do país para uma ansiada semana de férias no nordeste brasileiro, vá ao médico de clínica-geral para se assegurar que está na melhor forma e que a sua saúde recomenda-se. Ria-se na cara do médico quando ele disser que você sofre de hipertensão pulmonar, tem uma pedra nos rins e uma distensão na coxa esquerda.

4 - Desligue o seu telemóvel. Afaste-se de todos os compromissos e inconvenientes. Durante o período de férias cultive alguma distância em relação aos que tentam perturbar a sua paz. Mantenha um ar imperturbável quando dias mais tarde um amigo lhe disser que tinha um bilhete a mais para um concerto mas não conseguiu falar consigo.

5 - Descontraia com pequenos gestos como retirar o relógio de pulso. Medite sobre o peso insuportável desse pequeno objecto na nossa sociedade, sobre o valor excessivo que é dado ao tempo e como ele nos prende e limita a nossa liberdade. Depois desta meditação, volte a colocar o relógio no pulso. Uma tira branca no meio do seu braço bronzeado pode ser bem inestético.

6 - Aproveite para recuperar as horas de sono perdidas. Guarde o despertador e durma descansado. Acorde sem pressas e, num acto de boa disposição matinal, prepare o pequeno-almoço para os familiares. Mantenha-se imperturbável quando lhe disserem que já são 2 da tarde.

7 - Este verão tem o bónus dos Jogos Olímpicos. Não passe ao lado deste evento: veja em directo as competições mais emocionantes como a prova de Argolas. Partilhe da euforia do comentador a cada movimento do atleta: "Muito bem. [pausa] Sublime. [pausa] Grande controlo. [pausa] Belo. [pausa] Impressionante. [pausa] Muita precisão. [pausa] Saída perfeita. [pausa]"

8 - Conheça novas pessoas! Faça novas amizades! Aproveite para conhecer pessoas interessantes, diferentes do seu círculo habitual de amigos. Mantenha-se imperturbável quando o seu psiquiatra disser que são amigos imaginários. Aumente a medicação durante o verão.

9 - Viva saudavelmente. Afaste-se de coisas nocivas como o Rio Leça, material radioactivo e blogs.

10 - Encare com positividade o final das suas férias. Afinal, tem a consciência de que as aproveitou bem. Além disso, para o ano há mais. Claro que estará um ano mais velho, um passo mais próximo do fim da vida. E ainda continuará a tentar aproveitar uns míseros dias de férias e a ler coisas como questionários de verão e dicas para uma vida melhor! Sim para o ano há mais, seus estuporzinhos de m***** que lêem esta revista com o formato mais ridículo de sempre (135 X 185 mm, não lembra nem à revista Maria). Isso, leiam a revista, aprendam coisas "novas e úteis". Com que objectivo? Nenhum! Apenas a sua degradação cultural, caro leitor débil mental, injectando-lhe regras e sugestões sem critério. Você é deprimente. Você... é um traste.

Acho que vou enviar o meu currículo para a "Bordados & Costura".

Sunday, August 22

 

TVI, Panrico sem côdea, linhas telefónicas eróticas

...são algumas das invenções mais ridículas e completamente desnecessárias da última década. Centremo-nos nas linhas eróticas. Não compreendo o que leva alguns homens a utilizar desenfreadamente estas linhas de valor acrescentado. Só há duas explicações lógicas:

1) Eles acreditam realmente que estão a falar com uma mulher dominadora que acaba de sair do duche envergando apenas uma minúscula toalha de banho.

2) Eles estão conscientes de que a voz do outro lado é a de uma mulher de fato-de-treino e cabelo oleoso, que consegue gemer e arranjar as unhas ao mesmo tempo. E gostam dessa imagem.

A segunda teoria parece-me a mais verosímil. Lanço então um repto às empresas que exploram esse tipo de serviços: porque não primar pela honestidade e, ao mesmo tempo, continuar a satisfazer os clientes?

"Antes de mais... Não me chamo Soraya como leste no jornal... Sou a Maria Fernanda... E tu?"

"Estou a abrir e fechar rapidamente o zipper do meu fato-de-treino... ziiiip ziiiip.... ziiiiip zippp... Gostas?"

"Consegues ouvir-me a limpar as lentes dos óculos?... Oooooooooh ooooooooooh oooooooooooh"

De notar que na última frase o "Oooh" tem dupla função: se por um lado desembacia as lentes, por outro é um ofegar excitante. Com esta tomada de atitude o mundo seria muito melhor. Não tão bom como se não existisse a fome, a guerra e o Tozé Martinho. Mas ainda assim, melhor.

Monday, August 16

 

Um post dignificante

Mantenho uma relação estranha com os signos e a astrologia. Se por um lado acho as previsões coisas francamente idiotas, acabo por achar alguma piada à categorização das pessoas através da época do ano em que nasceram. Também acho piada à astróloga Maya, mas de um modo diferente. É um dos exemplos que uso para ilustrar a minha teoria de que uma licenciatura em direito é meio caminho andado para a insanidade total de uma pessoa. OLHEM PARA AQUELA MULHER, EX-ADVOGADA E TARÓLOGA DE SUCESSO! OLHEM ONDE ELA ESTÁ! NO SIC 10 HORAS, VESTIDA PELO JOÃO RÔLO!

A verdade é que resolvi dar o benefício da dúvida e deixar-me guiar cegamente por estas ciências ocultas. O 1º passo a tomar é livrar-me das pessoas astrologicamente incompatíveis. Uma das noções básicas da astrologia é a de que relações entre pessoas do mesmo signo não resultam. Decidi excluir da minha vida todas as pessoas nascidas entre 21/03 e 20/04 .

Assim de repente, vêm-me à cabeça 13 nomes. Dois familiares distantes, nove amigos, uma irmã e um sujeito pelo qual estou apaixonada - tendo este último a agravante de fazer anos no mesmo dia que eu: a chamada incompatibilidade astrológica total. Sorrio. Bem me parecia que não era amor. Tudo não passava afinal de uma indigestão crónica.

Afastadas estas influências negativas há que procurar pessoas dos signos de Gémeos, Balança e Aquário. Preparo-me então para estabelecer nos próximos dias saudáveis e duradouras amizades com pessoas como Humberto Bernardo, Pimpinha Jardim, Carlos Castro e Yoko Ono.

Voltemos à Maya. Pego na edição de ontem da revista Pública e leio atentamente as previsões para o meu signo:

"Esteja atento a tudo o que se passa à sua volta, não tome nenhuma atitude sem antes reflectir e pensar"
É verdadeiramente cortante o conselho de Maya. Ela sugere que os nativos de carneiro reflictam, e como se não bastasse, pensem. Talvez reflectir e pensar ao mesmo tempo, o que é bem arriscado.

"Tendência a indisposições que podem estar associadas ao calor"
Alguém se esqueceu de ler as previsões meteorológicas para os próximos dias.

As vagas previsões da Maya aliadas à perturbadora visão de passar o resto dos meus dias a discutir fait-divers com Humberto Bernardo (confesso que a hipótese de fazer visitas regulares à Kadoc com a Pimpinha é tentadora) obrigam-me a renegar o modus vivendi da astrologia.

Regresso pois cabisbaixa para o meu dia-a-dia feito de pequenos desafios ao destino. Ex. Número de pedacinhos de queijo emental que saem do pacote ao polvilhar uma spaghetti carbonara - se ímpar não saio de casa.

Saturday, August 14

 

Eh pá, sou uma nerd.

A simpática Mafalda tem feito uma série de Retratos a Óleo em que, com humor e pormenores macabros, descreve as pessoas por detrás dos blogs.

Julgava que as visitas deste blog se deviam todas ao facto de as pessoas pensarem que eu era uma beldade eslava. Obrigada Mafalda, por deitares essa teoria por terra. Gostei muito da descrição. Achei deprimente. E digamos que, tendo essa característica, não está muito longe da realidade.

Podem vê-lo aqui!

Friday, August 13

 

Enfermeira disposta a tudo

Obrigado por ter começado a ler este post devido ao título.

Nos comentários do último post das Trutas - depois de uma troca de impressões sobre variados assuntos como a angústia humana na partilha da sua memória infantil, o fetiche de lamber pés, Keats, voyeurismo e telenovelas mexicanas - surgiu o tema "Brincadeiras Sexuais".

Alguns relacionamentos pautam-se pelo cansaço e falta de imaginação. Nós os bloggers, paradoxalmente, não queremos isso. Faço então um apelo para que deixem ideias aqui nos comentários. Eu já avancei com os seguintes temas:

"Mecânico prestável e dona-de-casa infeliz"
"Sozinha no escritório com o chefe chantagista"
"Como lhe posso agradecer por ter tirado o meu gatinho da árvore, senhor bombeiro?"

e o Especial Comemorativo 'AOHNA 2004':
"Ninfa Grega assediada por Zeus nas margens do Rio Cefiso"

Wednesday, August 11

 

Memórias Dos Açores ou Como a Relação Entre Uma Mãe Bióloga Marinha E Uma Filha de 2 Anos Nunca É Saudável

- Olha Joaninha, um golfinho! Viste?

- Um peixe!!!!!!

- Bem, tecnicamente, não é um peixe. É um mamífero cetáceo da subordem dos odotocetos, ou seja, possuem dentes e um único orifício respiratório.

- É um peixe!

- Não! Como podem ser peixes, se têm sangue quente, respiram por pulmões e dão à luz crias que amamentam através de glândulas mamárias? Repara: os membros dianteiros dos golfinhos ainda conservam a ossadura dos mamíferos terrestres dos quais descendem.

- Um peixe, um peixe, um peixe!

- Estão na água e sim, podem mergulhar a grande profundidade e tudo, mas são mamíferos. Respiram. Ar. Não são peixes. OK?

- Um peixe!!!!!!

- JOANA, RESPEITA A TUA MÃE, OLHA QUE LEVAS!

- Um peiX...

*PLAF*

Tuesday, August 10

 

O drama dos rés-do-chão

Nunca vivi num rés-do-chão mas não deixo de sentir uma certa compreensão pelo pesadelo diário que vivem os seus habitantes. Diria mesmo que pior do que viver num rés-do-chão só mesmo viver na mesma rua de um café-bar com karaoke aos sábados das 00h às 3h da manhã. E com "Noites Latinas" aos domingos. E tiroteios durante o resto da semana. Maia, doce Maia.

Mesmo assim admito que o terror que sinto ao ouvir os primeiros acordes do "Paixão Lusitana" todos os sábados à noite não pode ser comparado ao que um morador do r/c sente de cada vez que o carteiro lhe pede para abrir a porta às 7.30 da manhã.

Neste último fim-de-semana, movida pelo intenso espírito de aventura que me caracteriza, vivi num rés-do-chão. Do lado de fora da minha janela alguém tinha colado o seguinte:

Longe de mim censurar o jovem idealista que deixou o autocolante numa janela alheia convicto de que estaria a praticar uma boa acção. Mas a verdade é que eu estava sozinha, com uma amigdalite mal curada e, pior, num rés-do-chão pertencente a um casal de idosos. Passei mal a noite, febril e com pesadelos.

Acordei por volta das 9, com um senhor do Círculo de Leitores que me pedia para abrir a porta do prédio. Cabe aos habitantes dos r/c ter o máximo discernimento nestas situações, ponderando bem se devem ou não permitir a entrada de um estranho. Fui à janela e vi o autocolante azul da Rádio Renascença no vidro traseiro do carro. Há situações que não deixam dúvidas sobre a bondade e o bom carácter de uma pessoa. Não lhe abri a porta.

Como piorei da amigdalite voltei para casa. É com estas experiências que uma pessoa compreende aquele vizinho chato do r/c. Não me posso esquecer de lhe dar um abraço contagioso, ainda hoje.


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